O Templo de Salomão | Primeiro Templo de Jerusalém: da construção à destruição

INTRODUÇÃO

O Templo de Salomão localizado em Jerusalém e construído sobre o Monte Moriá, o Monte do Templo, lugar onde Abraão preparou e quase executou o sacrifício de seu filho, Isaque, atrai fascinação até hoje.

Para além de uma atração turística e religiosa das 3 fés abraâmicas, por causa dos conflitos entre muçulmanos e judeus, o lugar até hoje tem extrema importância política.

E essa relevância não é hoje.

Hoje, vamos entender um pouco da história do milenar Templo de Jerusalém, o Templo de Salomão.

1 – Os Origens abraâmicas

O Rei de Israel, Salomão, filho de Davi, construiu seu templo sobre o monte Moriá cerca de 3.000 anos atrás para que abrigasse a Arca da Aliança e fosse o único lugar onde o povo judeu poderia fazer sacrifícios.

  Mas antes mesmo que tudo isso existisse, Abraão, ordenado pelo seus Deus a deixar sua terra, a já nessa época milenar, rica e avançada cidade de Ur, localizada na Mesopotâmia. Ele deveria ir para Canaã, a terra escolhida por Deus.

Lá, ele fora ordenado pela mesma divindade a sacrificar Isaque, seu primogênito, em seu nome. 

Nenhum dos dois hesitou. 

Vendo essa total obediência, Deus poupou Isaque e prometeu a Abraão que ele se tornaria pai de um povo que se multiplicaria como as estrelas no céu e a areia da praia. 

Eles seriam um povo conquistador, tudo isso porque Abraão havia obedecido sem pensar duas vezes.

A imagem de um pai obrigado pelo seu Deus a sacrificar seu próprio filho sem titubear ficou fortemente marcada, nada poderia ser mais gráfico do que isso. Por isso, o Monte Moriá passaria a ter uma significância colossal. 

2 – O reino de Davi

Entre 1000 AC a 960 AC, todas as tribos judaicas foram unificadas como um só reino sob o comando de Davi. 

Ele conseguiu capturar a cidade cananéia de Jerusalém, a transformando em sua capital. Ele então repropositou  o altar sagrado dos cananeus localizado no Monte Sião como um espaço de culto a Yahweh e então imediatamente supervisionou a mudança da Arca da Aliança que continha os 10 mandamentos entregues por Deus a Moisés  do Tabernáculo em Shiloh. 

A presença da arca representava a confirmação divina de seu direito de governar sobre os judeus.

Mas a arca também se provaria uma grande dor de cabeça para Davi, tanto politicamente como religiosamente.

No Monte Sião, a arca se tornou um local de adoração de todos os povos da Judeia, atraindo peregrinos de todos os cantos da região para Jerusalém. Nos dias santos a cidade ficava repleta de procissões e festas.

As tábuas lá contidas continham a confirmação de que eles eram o povo escolhido pelos Deus verdadeiro, Yahweh.

Apesar de Davi ter a intenção de construir um templo no local, a razão mais imediatista para ele ter adquirido aquela terra era para construir um altar para receber sacrifícios que iriam acabar com a praga que assolava aquelas terras.

Apesar de Davi ter conseguido as terras onde o Templo de Deus deveria ser erguido, ele não o permitiu fazer a construção. 

Por ter sido um homem cuja vida banhada em sangue e por ter se tornado um Senhor da Guerra cruel, alguém que matou seu servo mais fiel por luxúria, não seria ele, mas seu filho, Salomão, o escolhido construir a casa de Deus no monte. 

Era Salomão, não Davi, o homem que Deus havia escolhido para ser seu filho.

Davi, no entanto, ainda teria um importante papel. Ele poderia planejar o templo, encomendar os recursos e pessoal necessários para a construção.

3 – O reino de Salomão

Salomão no entanto, era um rei menos guerreiro e muito mais diplomata do que Davi, mas antes de construir o Templo, construiu um império.

Esse império constituiu as bases econômicas para um vasto programa de fortificação das fronteiras e das cidades.

Afinal, ele se localizava numa encruzilhada entre diversos impérios que poderiam tentar agressões militares de todos os lados.

Ele reconstruiu as muralhas de Jerusalém e construiu seu palácio dentro delas. Quase 500 anos depois da fuga do Egito, em seu quarto ano de reinado sobre Israel, Salomão começou a construir o grande templo que levaria seu nome.

Deveria ser um templo imponente.

Forte o suficiente para sustentar as estruturas e ornamentos preciosos lá seriam guardados. Deveria ser muito grandioso, assim como suntuoso, tal qual as outras construções de Salomão.

Ele fora construído com pedras brancas dos arredores de Jerusalém, além de materiais de altíssima qualidade de toda a região, até mesmo com importações de outras nações.

A perfeição da construção era tamanha que aparentemente nem sequer era possível identificar os sinais do uso de martelos e outros instrumentos de arquitetura, era como se as próprias pedras tivessem naturalmente se unido.

Dentro dele, um oráculo foi posto na parte interna onde a Arca da Aliança de Deus com os homens seria colocada.

Todo espaço coberto de ouro.

A câmara mais secreta de todas era conhecida apenas pelos sacerdotes. As duas figuras que estavam na tampa da arca foram transformadas em 2 estátuas gigantes. Ao redor da Arca, se erguendo a quase 5 metros de altura dois Querubins feitos de madeira das Oliveiras.

Cobertos de ouro, essas duas figuras estendiam suas asas a máxima envergadura, as quais se encontravam no centro e tocavam as paredes de cada um dos lados do Templo. Como guardiões da arca de Moisés.

Segundo o historiador Alan Baufour essas figuras aladas eram provavelmente inspiradas nas artes egípcias e suas estátuas também aladas que geralmente se erguiam sobre os sarcófagos dos Faraós como seus guardiões.

Há também indicações da influência de figuras aladas em outras civilizações vizinhas, como na Assíria e na Babilônia.

Além disso, as paredes foram cobertas com figuras de querubins, palmeiras e flores desabrochando. 

Até mesmo o historiador da antiguidade clássica, Josefus Flavius, nota que aquelas estátuas douradas eram apenas uma conjectura da verdadeira forma dos Querubins, portanto, não é se se estranhar que se assemelhem a outras figuras fantásticas da região.

~ pessoalmente eu prefiro muito mais a aparência do anjo de Ezquiel do que essa versão antropomórfica, mas quem sou eu para dar palpite nessas coisas, né ~ 

Mesmo assim, a santa câmara foi mobiliada exatamente como havia sido prescrita por Moisés; o castiçal de ouro, a mesa para o pão e, no meio, o altar de ouro.

O santuário ocupava o resto dos quase 20 metros restantes, coberto por “’Véus de azul, roxo e escarlate, e o linho mais brilhante e macio, com as flores mais curiosas forjadas sobre eles’.”

Tanto Josefus quanto os autores do livro de Reis da Bíblia elogiaram o copioso esmero que os carpinteiros e ferreiros tiveram ao fazerem as decorações das colunas e paredes do templo.

Após 7 anos e com a construção terminada, a arca foi levada pelos sacerdotes em uma procissão do Tabernáculo no  Monte Sião até o monte Moriá.

Ela então foi colocada aos pés dos dois Querubins dourados.

Ao escrever quase 1.000 anos depois, Josefus imagina a cena como algo de esplendor dificilmente igualado com tamanha opulência e majestade, algo que poderia ser comparado apenas com os templos de vastos impérios das dinastias egípcias e da Mesopotâmia.

Mas isso tudo teve um custo, impostos foram elevados e demasiada quantidade de recursos transferidos das outras regiões para Jerusalém levaram a disputas entre os senhores de terra que acabou pela divisão dos Judeus em 2 reinos Israel e Judá após a morte de Salomão.

4 – A decadência e o fim

A construção do Templo marcou a Era de ouro do Reino de Israel, sua influência diplomática e poder comercial era gigantescos, indo até regiões longínquas, como na região onde se localiza atualmente a Etiópia.

Se colocarmos o diminuto tamanho de Israel comparado aos grandes impérios da região, essa influência é ainda mais impressionante.

Mas nenhuma era de ouro dura para sempre, e não foi diferente para Israel.

Em meados do século VII A.C. a dinastia de reis criada por Davi e Salomão havia fracassado. Os exércitos foram enfraquecidos e os senhores locais ganharam poder sobre a coroa e os judeus estavam divididos em 2 reinos. A religião fora corrompida. O templo de Salomão outrora dedicado à Yahweh havia sido convertido em um templo de adoração a Baal, um deus cananeu ~ se quiser saber mais sobre esse deus e os cananeus do norte, temos 2 vídeos sobre os fenícios no canal que devem aparecer aí no card ~.

Baal demandava sacrifícios e performances sexuais enquanto os sacerdotes cantavam freneticamente e se cortavam com facas para atrair a atenção divina.

Poucas décadas depois, uma tentativa de reviver o culto a Yahweh no templo foi feita e bem sucedida, os ornamentos criados para Baal e outros deuses cananeus foram destruídos.

Mas isso não durou muito.

Pois em sua fraqueza, a terra próspera atraiu a ambição de seus vizinhos.

Ainda em no século VII AC o Reino de Israel fora conquistado pelo Império Neoassírio e apesar de alguma resistência ele foi destruído em 732 AC e sua população deportada.

Depois disso, o Reino de Judá teve de lutar pela sua existência por pouco mais de 1 século.

Quando, em 597 A.C., os Neobabilônicos governados por Nabucodonosor II atacaram Judá, capturaram Jerusalém e deportaram seu rei, o último descendente de Davi.

Houve então um saque da cidade e uma pilhagem brutal do templo. Tanto os tesouros do rei, quanto do templo foram roubados, as peças de outro derretidas e quebradas.

Em poucas horas os babilônios destruíram o que o povo comandado por Davi e Salomão levou séculos para construir.

Em 587 e 586 AC, novamente Nabucodonosor cercou a cidade e novamente a derrotou.

Dessa vez ele foi ainda mais inclemente.

Tanto a cidade quanto o templo foram destruídos. Após 170 anos de sua construção o Templo de Salomão agora não passava de ruínas chamuscadas e a outrora opulenta e imponente Jerusalém depois de ser pilhada e arrasada não estava em situação diferente.

Todos os sobreviventes foram então aprisionados e levados para o exílio na Babilônia.

Para alguns profetas do judaísmo, como Ezequiel, essa era a punição dada por Deus por eles terem adorado a Baal e terem praticado monstruosidades nas cortes e no Templo.

O exílio se estenderia por quase um século, até 538 AC quando o Persa Ciro, o Grande, Rei dos Reis, libertou os judeus e encorajou seu retorno para a Judeia.

Em uma carta, Ciro escreve para seus reis subalternos solicitando auxílio para que os tesouros saqueados por Nabucodonosor fossem devolvidos para os judeus para que estes pudessem restaurar o templo de seu Deus.

Pouco depois do retorno, o templo seria reconstruído

Mas esse templo era uma sombra daquele construído por Salomão, assim como a nova Jerusalém eram uma esquálida sombra da cidade do reino de Davi e Salomão.

A cidade ainda seria reconstruída e saqueada por grandes impérios, os macedônios, aos helenistas e romanos, mas ela jamais voltou a algo próximo de seu apogeu

Referências

Solomon’s Temple Myth, Conflict, and Faith. Alan Balfour. John Wiley & Sons Inc. © 2012.


Um comentário sobre “O Templo de Salomão | Primeiro Templo de Jerusalém: da construção à destruição

  1. Com certeza o Templo do Senhor não tinha nada de influência egípcia ou de outra civilização que fosse, mesmo porque seria uma blasfêmia, o Deus de Israel não se compara com nada deste mundo.

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