Sexo, casamento e maternidade em Esparta | As mulheres espartanas

INTRODUÇÃO

Esparta talvez seja a Cidade Estado Grega, que mais atraia atenção hoje em dia, mas há um grupo de espartanos pouco falado, mas que mesmo na antiguidade levantava muita curiosidade por todo o mundo Grego e mediterrâneo, esse grupo era formado pelas mulheres espartanas.

1 – O papel e liberdade das mulheres de Esparta e Educação

As mulheres espartanas eram tratadas de maneira quase única dentro do contexto das cidades estado gregas, as polis.

Por causa disso, muitos estudiosos e intelectuais da época desenvolveram grande interesse por elas e por causa disso acabamos sabendo bem mais sobre elas.

No entanto, deve ser colocado em conta que a maioria dos escritos veio após a queda de Esparta como potência hegemônica do mundo helênico.

Em todas as polis que se tem notícia, não havia programa de educação para as garotas, elas eram mantidas dentro de casa, longe de olhares luxuriosos do mundo exterior e se focam em atividades domésticas e de artesanato.

Em Esparta era bem diferente.

Em Esparta, era esperado que garotas se tornassem boas mães e garotos bons soldados.

O trabalho doméstico e artesão dentro de casa era era restrito às escravas. E embora fossem treinadas nisso para que pudessem supervisionar melhor o trabalho das escravas, elas não encorajadas a fazer isso, tão pouco sua honra dependia de qualquer tipo de atividade dessa natureza.

Uma anedota interessante conta de quando uma Iônica, ou Jônia, dependendo da tradução em português, se gabava a uma espartana sobre a qualidade de seus trabalhos, a espartana simplesmente mostrava seus 4 filhos muito bem comportados e dizia que esse era o verdadeiro trabalho de uma mulher honrada.

E como as roupas em Esparta eram muito mais simples do que as Atenas, por exemplo, mesmo quando elas precisavam fazê-las para rituais, o trabalho exigido era muito menor.

O programa de estudos das garotas tinha objetivo dele era criar mães que produziriam os melhores hoplitas e mães de hoplitas. 

E por causa disso o sistema de educação para elas era uniformizado.

Aristóteles tenta racionalizar o porquê das mulheres espartanas serem tão mais livres que suas contrapartes no resto da Grécia e chega a conclusão que isso se dava pela ausência prolongada dos homens da Polis em períodos de Guerra ou expedições militares, daí a necessidade de algum grupo que dominasse os afazeres e tivesse mão forte sobre o império espartano. 

O próprio Aristóteles nos conta uma história sobre como o legislador Licurgo tentou diminuir as liberdades das mulheres espartanas com reformas restritivas, mas elas não ficaram paradas e se mobilizaram contra ele e conseguiram que ele não somente mudasse de ideia, mas voltasse atrás em algumas reformas propostas.

Além disso, segundo a melhor historiadora sobre as mulheres espartanas, Sarah Pomeroy, as espartanas eram proibidas de usar qualquer tipo de maquiagem, comiam muito bem e vinho sempre acompanhava suas refeições. A sua educação, focada, em leitura, oratória  escrita,  dependendo da idade, era paga pelo Estado espartano.

Eram isentas do serviço doméstico, com exceção da obrigação de darem filhos fortes ao seu país. 

Na realidade, as mulheres tinham ainda mais possibilidades de explorar o conhecimento, uma vez que os homens estavam constantemente sendo inundados de tarefas que focavam no seu potencial físico e intelectual focados direcionados ao campo marcial.

Enquanto os garotos viviam nos quartéis comunais, as garotas viviam com suas mães e portanto poderiam seguir caminhos de aprendizado na música, poesia e outras disciplinas.

E todo esse aprendizado não era apenas para uma melhor formação das mulheres espartanas.

Através da educação padronizada, os valores e tradições conservadoras espartanas poderiam ser passados para as próximas gerações uma eficiência muito maior.

Além disso, como eram as mães que ficariam a cargo da criação e educação doméstica de seus filhos, tê-las alinhadas com os valores espartanos garantiria que a futura geração de hoplitas já viessem alinhados do berço quando introduzidos aos quartéis comunais.

Por causa disso, é bem provável que as espartanas tivessem uma sofisticação cultural muito maior que a dos espartanos.

Várias regras tradicionalistas também foram criadas para afastar as mulheres espartanas de certos vícios que levariam à fraqueza, como uso de perfumes e maquiagem, embora o grau de restrição deles tenha variado ao longo da história.

As mulheres espartanas também eram treinadas e encorajadas a falar em público, exaltando os corajosos, enquanto insultavam os covardes.

Se pensarmos que Aristóteles julgava que era natural às mulheres ficarem caladas e que Plutarco quase 500 anos depois defendia que uma mulher deveria falar apenas com seu marido ou através dele vemos que esse tipo de liberdade das espartanas, por mais contraditória que possa parecer pela situação imperial da sua Polis, não era algo de pouco valor.

2 – O treinamento físico e lazer das mulheres espartanas

O papel da mulher espartana na sociedade e produzir e nutrir aquela que seria a próxima geração de guerreiros.

Por isso não eram coagidas a certas atividades que seriam considerados trabalho de mulher em outras polis.

Pela quantidade de evidências históricas, fica bem claro que o vigor das mulheres espartanas chamava muito a atenção de escritores da época.

Diversos artefatos, como estátuas , também demonstram como atividades físicas de alta intensidade eram algo comum no dia a dia das garotas espartanas.

Como Xenofonte nos elucida, o resto dos gregos esperavam que as garotas imitassem a vida sedentária típica de artesãs – que se mantivessem caladas e focadas em trabalhos com lã. Mas como é que esse tipo de mulher conseguiria parir e criar crianças aptas ao combate?

Reformas foram feitas para que esse tipo de trabalho doméstico e artesão ficasse a cargo das escravas, enquanto as mulheres livres poderiam focar seu tempo em outras atividades ligadas à gestação de soldados.

Na verdade, havia uma insistência para que a mulheres treinassem de maneira quase tão intensa quanto os homens, mais do que isso, foram estabelecidas competições para elas dentre as quais se tinham corridas, provas de resistência física e disputas de força muscular similares às dos homens.

A intensidade dos treinamentos para ambos os sexos não tem paralelo no resto do mundo Grego. A competitividade era não natural quanto a própria exigência árdua.

Isso tudo com a crença de que se ambos os pais fossem fortes e resistentes, eles produziram uma prole mais vigorosa e saudável. 

E se as mulheres espartanas usavam uma túnica que revelavam suas coxas no dia a dia, ficavam completamente nuas durante os treinamentos, na verdade ambos os sexos ficavam nus e não há evidências de que existia qualquer vergonha por causa da nudez. Não é claro, no entanto, se os espaços de treino eram compartilhados entre garotas e garotos.

As evidências não são completamente conclusivas se ser sexualmente provocativo durantes os treinamentos era algo mais ou menos comum, mas algumas fontes mostram que isso eventualmente acontecia.

Não somente as garotas se exercitavam, mas mulheres mais maduras e grávidas também, todas peladas.

Tucídides credita os espartanos como sendo os primeiros a se exercitarem completamente sem roupa. 

Tanto a permissão das mulheres usarem roupas menores, como o fato delas ficarem nuas até depois da puberdade era fato de grande consternação e escândalo entre as outras Polis. Em Atenas, por exemplo, além de ficarem a maior parte do tempo confinadas ao lar, as mulheres em geral usavam saias e vestidos que batiam nos calcanhares.

Elas também participavam de caçadas e consumiam muito mais proteína do que suas contrapartes no resto do mundo Grego.

Esse tipo de treinamento também rendia histórias inspiradoras de coragem para todos os espartanos, como no caso de Timycha, uma espartana capturada por Dionísio, o tirano de Siracusa, quando estava grávida de 6 meses, mesmo torturada brutalmente, não revelou os segredos da escola pitagórica, preferindo morder sua língua fora e cuspí-la aos pés do tirano.

Plutarco conta a história de Kynisca, irmã de um rei espartano, que competiu na modalidade de bigas nos Jogos Olímpicos. E pesquisas  arqueológicas modernas nos mostraram que ela de fato venceu, dado o seguinte escrito:

“Reis de esparta, meus pais e irmãos

Eu, Kyniska, vitoriosa com sua biga de cavalos velozes

Ergui essa estátua 

e me declaro a única mulher em toda a Grécia a já ter conquistado esta coroa”

Mesmo após o casamento e com a graduação delas no sistema educacional do estado, as espartanas continuavam a se exercitar regularmente. Pomeroy ainda afirma que muitos autores não espartanos se impressionavam com o quão em forma eram as mulheres espartanas adultas.

Uma mulher casada deveria conseguir tocar sua bunda com os pés no ar enquanto pulava, ela precisava ter essa capacidade para poder executar alguns movimentos de danças em certos rituais religiosos.

É provável que por treinarem, as mulheres espartanas fossem renomadas pela sua beleza e força. Ateneu nos conta que “Em Esparta os homens mais elegantes e as mulheres mais belas são admirados sobre todas as coisas, e as mulheres mais belas em todo o mundo nascem em Esparta”.

3 – Aptidão militar das mulheres espartanas

Como citado brevemente pela jornalista Svetlana Aleksiévitch os escritos de Diodoro Sículo mostram que em tempos de mobilização total era esperado que as mulheres espartanas pudessem defender a cidade.

Ao que os homens em idade militar saíam com o exército principal, recaia sobre as mulheres, velhos e crianças a responsabilidade de defesa da cidade. Uma espécie de exército da reserva avant la lettre.

Embora treinadas fisicamente, elas não eram preparadas para o combate real. Apesar de sua aptidão física, elas não tinham habilidades com formações e equipamentos militares.

Platão é bastante crítico do fato dos homens espartanos ficarem um tempo tão longo das suas vidas arregimentados em quartéis enquanto as mulheres tinham tanta liberdade.

Ele cita o fato das garotas compartilharem atividades atléticas e música, enquanto as mulheres se abstinham de trabalhar com lã, ao passo que elas também não participavam do serviço militar. 

Além disso, ele nos conta como se em tempos de necessidade elas fossem mobilizadas para a guerra, não teriam a mesma habilidade com o arco e armas de arremesso como as Amazonas, e tão pouco com a lança e o escudo para pelo menos, encherem os corações de seus inimigos de terror a vista de que o número de inimigos que teriam de enfrentar seria o dobro do que se esperaria de uma polis grega comum.

Platão via que as leis espartanas deveriam ser aplicadas igualmente a todos, e não que “o sexo feminino se torne indulgente e se encha dos prazeres e luxos de uma vida desordenada enquanto o sexo masculino é estritamente controlado”.

Para ele, isso garantiria que apenas metade do estado vivesse em uma vida de real prosperidade

Mesmo assim, ele nota que em Esparta e Creta, não somente os homens, mas também as mulheres se orgulhavam de sua educação e ainda os elogia pela suas habilidades nas discussões filosóficas. 

Apesar disso, quando os exércitos de Tebas sob o comando de Epaminondas em 369 AC apareceu próximo a Esparta para invadí-la, as mulheres espartanas ficaram aterrorizadas e entraram em pânico pois seu país jamais havia sido invadido.

É importante notar, no entanto, que a essa altura, a qualidade marcial dos homens espartanos também havia caído drasticamente.

Mesmo assim, um século depois, quando as forças de Pirrus se aproximavam da cidade, lideradas por Archidamia, as mulheres espartanas se mobilizaram contra seu envio para Creta ante uma possível conquista da Polis.

Elas declaram que “não há razão para continuar vivendo se Esparta for destruída” . Mas suas ações falaram mais alto que suas palavras, pois elas assistiram no esforço da cidade na criação de trincheiras construídas em uma única noite como uma última defesa contra os elefantes de Pirro.

Quando os poucos homens restantes ficaram exaustos do trabalho, elas tomaram o fardo sobre seus ombros e terminaram a trincheira elas mesmas. No dia seguinte, Chilonis, uma nobre espartana, manteve uma corda ao redor de seu pescoço durante toda a batalha, resoluta em não ser capturada com vida.

Ao final do dia, graças aos esforços conjuntos, as forças de Esparta sobreviveram ao ataque e com os reforços do exército principal foram capazes de obliterar as forças invasoras.

INTRODUÇÃO

Nas outras cidades-estado as garotas destinadas à maternidade são criadas com as quantidades mais modestas de comida, com a menor quantidade possível de iguarias. Quando não são totalmente privadas de beber vinho, podem apenas fazê-lo misturando a bebida com água.

O resto dos gregos acredita que é correto que suas garotas fiquem caladas, dentro de casa e trabalhem com lã.

Como, então, esperam que mulheres criadas de tal maneira tenham filhos vigoroso? Licurgo, no entanto, achava que as mulheres escravas eram suficientes para fornecer roupas e acreditava que a maternidade era a importante das tarefas para as mulheres nascidas livres. Portanto, primeiro ele ordenou que o sexo feminino se exercitasse não menos que o masculino; além disso, ele criou competições de corrida e de força para mulheres e homens, acreditando que crianças mais saudáveis nascerão se ambos os pais forem fortes

Esse vídeo é a segunda parte de uma série sobre as mulheres espartanas, o outro deve aparecer aí no card agora. 

E é com essa passagem de Xenofonte falamos do sexo, casamento e maternidade em Esparta.

4 – Casamento e reprodução

O casamento e a reprodução eram a razão de ser de uma garota espartana. A geração de filhos fortes que se tornariam bravos soldados, sua principal missão 

As espartanas eram as únicas garotas gregas generosamente alimentadas e submetidas a treinamento físico, único em toda Grécia, tudo isso baseado na crença de que pais fortes produzem filhos mais fortes

De acordo com Licurgo, era indicado aos homens que quando chegassem ao apogeu físico buscassem uma mulher para casar, dada a crença de que isso produziria os melhores filhos.

Não se sabe ao certo que idade era essa. Em outros lugares da Grécia, as meninas tinham cerca de 14 na maioria dos casamentos.  

Segundo Pomeroy, no entanto, as garotas espartanas casavam aos 18 anos, uma possibilidade era que se percebeu que a mortalidade durante a gravidez e o parto caíam drasticamente quando as garotas atingiam essa idade, além de estarem mais maduras para educarem seus filhos com disciplina.

Havia ainda uma multa não apenas para aqueles que não se casassem ou se casassem em idade um pouco mais avançada, mas também para os que não tivessem casamentos que fossem tidos como “bons”. 

Havia ainda o incentivo para que as famílias tivessem muitos filhos. Casais com 3 filhos ficavam isentos do serviço militar e o pai não precisaria mais pagar impostos após o 4 filho.

Usando esses mecanismos de coerção e benefícios, o Estado espartano fazia os homens se dobrarem.

No entanto, é importante frisar que nada disso valia para as mulheres.

Ué? Elas não deveriam fazer sua parte também?

Sim, mas acontece que pelo descarte de bebês, em sua maioria garotos, ao que parece, a exposição de garotos muito jovens a grandes provações físicas, a falha de muitos deles em realizar o Agoge e a morte prematura de homens no campo de batalha deixava um número considerável de mulheres que não conseguiam encontrar maridos e portanto não tinham filhos.

Como em outros lugares da Grécia, cada homem só poderia ter uma esposa simultaneamente. No entanto, processos de divórcio eram extremamente simples e rápidos, bastava que o homem mandasse a mulher de volta para a casa de seu pai.

Pronto, sem nenhum processo legal ou ritual formal para terminar a união.

Esparta no entanto, continuava sendo uma sociedade patriarcal. 

Justamente para que mantivesse seu pequeno império, as mulheres da elite guerreira tinham essas liberdades e não eram submetidas às mesmas provações que os homens.

As práticas eugênicas espartanas merecem um vídeo para si, mas as mulheres não eram postas sob o mesmo nível de exigência física e infanticídio justamente por serem elas quem gestariam a futura geração de guerreiros.

Dessa mentalidade advém seu treinamento físico, liberdade, direitos e alimentação farta.

Acontece que mesmo assim, se comparada com as atenienses ou mesmo com as romanas, por exemplo, a situação das espartanas era bem melhor, a começar que não eram tratadas como praticamente, ou em certas épocas, literalmente, propriedades de seus pais e maridos.

Só para pegar um exemplo, o historiador Mark Golden argumenta que em Atenas as taxas de infanticídio feminino chegaram a 20% em determinados períodos. Fora a prática de expulsão de garotas, muitas aos 12 ou 14 anos, por terem supostamente desonrado o nome de sua família.

5 – A corte e o flerte

Não temos muitas informações sobre como funcionava o processo de corte e flerte entre os espartanos.

Segundo Plutarco, jovens mulheres e homens andavam nus em alguns eventos, nos quais também dançavam nuas. Em alguns banquetes, elas cantavam também nuas para um público que incluía possíveis futuros parceiros.

Isso dava aos adolescentes a oportunidade de ver os corpos de seus futuros parceiros. Plutarco ainda assinala que os eventos e as competições atléticas cheios de nudez geravam uma atração física sexual que compelia os homens solteiros a buscar o casamento.

Quando eu penso nisso, lembro dos meus tempos de escola e fico imaginando como seriam um bando de garotos e garotas de 16 anos todos atléticos e pelados nesses eventos. 

Plutarco adiciona que as garotas não eram incitadas ao casamento enquanto eram pequenas ou imaturas, mas quando estavm maduras o suficiente para terem filhos sem muitos riscos.

Ateneu nos dá outros exemplos citando que em Esparta todas as jovens garotas eram trancadas em uma sala escura, então, jovens garotos eram trancados com elas lá dentro.

Depois disso, cada um deles levava para casa com sua noiva, sem necessidade de dote, qualquer garota que pusesse as mãos. Trocar de noiva durante o período de noivado sem uma boa razão era punido com multa e insultos, como um caso no qual a noiva foi trocada por outra simplesmente por ser menos bonita.

Haviam ainda festivais nos quais mulheres casadas iriam humilhar e jogar coisas nos homens solteiros, tudo isso com o objetivo de fazê-los se casar o mais rápido possível uma vez que atingissem a sua idade tenra.

Normalmente, a aprovação do pai da garota era necessária para o casamento, mas haviam lá suas brechas.

A cerimônia de casamento era um tanto curiosa.

O marido carregava a esposa com força do altar, depois disso, o cabelo da noiva era praticamente raspado, ficando bem curto, ela era vestida em roupas de homem, então ela era deixada em uma cama no escuro, depois de um tempo, o noivo chega em suas roupas do cotidiano, ele deve entrar no quarto com compostura e austeridad. Lá, ele tira as roupas dela e sua virgindade, tomando-a para si, após algum tempo juntos, o noivo retorna para os seus próprio alojamento, onde dormirá, como de costume, com outros homens.

Meio bizarro né?

Mas se a gente prestar um pouco de atenção, vamos ver que esse ritual meio que imita uma captura e um estupro na realidade.

Provavelmente imitando uma prática do passado.

Hoje os historiadores podem apenas conjecturar, mas MacDowell sugere que em algum momento, por causa da natureza de expedições militares já citada, as mulheres espartanas conseguiram ganhar mais espaço na sociedade e a prática de raptos e estupros foi abolida e substituída por um ritual.

É importante frisar que essa suposta captura era um teatro realizado pelos 2, pois o matrimônio já havia sido arranjado previamente. A noiva já estava pronta quando o noivo aparecia. 

Uma mulher adulta, caso quisesse, ela poderia dar uma boa luta ao homem e se esse fosse realmente um caso de estupro. O que não era o caso.

O cabelo cortado como o de um homem provavelmente era ligado ao ritual de passagem da mulher para sua nova vida. Como uma donzela, ela usava cabelos longos e descobertos, como esposa, seu cabelo era curto e coberto por um véu.

Ephraim David argumenta que isso também servia para ela ficasse parecida com um jovem no Agoge, ou seja, também era um passo para transformá-la em uma cidadã.

Outro ponto importante é que tal casamento era mantido em segredo até que a mulher ficasse claramente grávida.

Se compararmos novamente com as mulheres de Atenas, a discrepância fica ainda mais gritante.

Quando casava, a ateniense normalmente não tinha nem 15 anos, seu matrimônio era arranjado com alguém com quase o dobro da sua idade, que ela vira 1 ou 2 vezes na vida e ela se mudava para uma nova casa e tirando raras exceções, nunca mais via seus amigos e familiares.

O casal espartano, por outro lado, tinha quase a mesma idade, já haviam visto um ao outro nus nos festivais e nos treinamentos desde que eram crianças. Tão pouco a mulher se mudava tão cedo por causa do segredo do casamento do treinamento do noivo, que era obrigado a viver com seu regimento até os 30 anos de idade.

Por causa disso, era a esposa quem administrava a casa como chefe de família, lidando com o gerenciamento dos criados, criando os filhos e liderando a família.

Tais responsabilidades demandavam que a esposa fosse uma mulher madura, não uma garota debutante, como a noiva ateniense.

Mesmo quando casava com um homem mais velho, Pomeroy argumenta que o marido não dominava a mulher sem seu consentimento. 

Isso se demonstra no fato de que mesmo se o marido fosse impotente por causa da idade ou infértil a esposa era obrigada a ter filhos e ele deveria considerar os desejos dela nesse processo.

Xenofonte implica que isso de fato acontecia. 

Esse tipo de casamento geralmente acontecia quando a mulher era a última sobrevivente de uma família, nesse caso, ela tinha uma certa obrigação de casar com alguém próximo ao seu pai. Nesses casos a pressão pela procriação era especialmente forte.

A poliandria, embora acontecesse com até certa frequência, não comum. Em geral, as espartanos não possuíam mais de um relacionamento de longo prazo simultâneo. 

6 – Filhos e adoção e sexo

Outro aspecto interessante é que era possível para uma mulher ter relações sexuais com mais de um homem. 

Xenophon nos mostra que em casos de casamentos entre homens velhos e garotas jovens, apesar do ciúme, ele poderia e deveria escolher um homem jovem que fosse seu protegido e de boa índole para que este engravidasse sua esposa e assim pudessem gerar filhos fortes. Esse filho seria criado dentro da linhagem do esposo da mãe.

Um exemplo referenciado pelas espartanas era o caso de Helena, uma mulher que escolheu um homem mais novo do que o seu marido. Embora isso seja mais uma conjectura da historiadora Sarah Pomeroy, ela embasa esse argumento com o fato das histórias, lendárias e verdadeiras de espartanos do passado serem reverenciadas e usadas como modelo pelos espartanos.

Havia ainda outra maneira da mulher ter mais de um parceiro, isso era no caso de um homem jovem que não queria se casar, mas também não queria pagar as multas por não ter filhos, esse varão poderia “tomar emprestada” a esposa de alguém desde que tivesse consentimento do marido.

Nem Xenophon e nem Plutarco explicam com que família ficaria a criança.

As ideias eugenistas também se aplicavam às famílias, por exemplo irmãs de homens considerados covardes em favor de mulheres que eram “euteknos” (abençoadas com bons filhos”) revela a crença de que a mãe era mais do que simplesmente um campo fértil que receberia a semente do pai. De fato, a crença de que os filhos herdariam características físicas e psicológicas dos dois pais recebe outra evidência histórica.

A necessidade de filhos fortes era tão grande, que depois das pesadas baixas causadas pela guerra contra a Messênia que foi permitido a alguns Hilotas terem relações com Esparciatas viúvas dos mortos na guerra. Isso para que as baixas não ficassem tão aparentes e pudessem ser recuperadas. Estes hilotas foram elevados a cidadãos no processo.

A maternidade era considerada tão importante para a continuação do Estado que as mulheres que morriam durante o parto estavam entre o seleto grupo de espartanos que tinham seus nomes gravados nas lápides. Apenas homens que morriam em batalha e essas mulheres tinham tal honra.

Women could acquire property. Aristotle complains that during the Fourth Century

BC “nearly two-fifths of the whole area of the country is owned by women, because of the number of women who inherit estates and the practice of giving large dowries; yet it would have been better if dowries had been prohibited by law or limited to a small or moderate amount.”29 It was the responsibility of the kings to supervise heiresses and supervise their marriages.30

7 – Propriedades das mulheres espartanas

Em Esparta as mulheres ainda tinham outras liberdades quase impensáveis na maior parte da Grécia, elas podiam comprar e serem donas de propriedades.

Aristóteles cita o fato de que quase ⅖ das terras do país pertencia a mulheres, justamente por causa dos costumes que permitiam essas mulheres herdar e comprar propriedades. Ele fala com certo desgosto que tais práticas deveriam ser proibidas ou limitadas severamente pela lei.

8 – Religião

Toda essa cultura marcial se refletia nas representações das divindades. Incluindo Atena da Casa de Bronze, Aphrodite Morpho, Afrodite Areia, todas retratadas como guerreiras.

Artemis era mostrada usando um elmo com arco e lança,

Em contraste, em Atenas apenas uma deusa, a própria Atena, era representada usando armadura e nesse caso não haviam implicações práticas para as atenienses, ao contrário de Esparta que focava toda sua cultura pode poderio militar e na qual tais representações tinham implicações reais para as mulheres.

9 – A percepção das mulheres espartanas

Algumas anedotas que passaram os séculos parecem trazer bem a ideia do tipo de mulher idealizado das espartanas:

Entre elas uma citada por Plutarco que conta o seguinte:

“Certa vez uma mãe espartana enterrava seu filho e quando alguém simpático tenta oferecer suas condolências ela responde com veemência “Eu o pari para que ele pudesse morresse por Esparta e foi exatamente isso que me aconteceu”.

Em outra ocasião Rousseau conta a seguinte história:

“Em uma período de guerra, uma mãe espartana esperava notícias de uma batalha na qual seus 5 filhos estavam envolvidos. Eis que um escravo se aproxima dela e fala o seguinte: “Senhora, tenho notícias terríveis, seus cinco filhos morreram!”. Ao ouvir isso a mãe espartana lhe dá bofetada feroz e responde furiosa: “Maldito escravo, eu lhe perguntei isso? Quem venceu a batalha?” ao que o escravo perplexo e submisso responde “Esparta”.

Depois do ocorrido a mulher vai até o templo dar graças aos deuses pela vitória.

Outra anedota bem mais famosa era a que toda vez que um filho ia à guerra sua mãe lhe dizia “volte com seu escudo ou sobre ele”, como os escudos eram muito pesados, em geral eles eram jogados ao chão nas fugas, essa pasagem nos dá a ideia de que a morte honrosa no campo de batalha era preferível a uma mãe espartana do que ter seu filho ao seu lado se ele fosse um covarde.

Segundo a cientista política Melissa S. Lane, esse modelo de cidadã que colocava o interesse da sua comunidade sempre acima dos seus próprios de maneira quase sobrehumana se tornaria a base do ideal de virtude republicana da Grécia antiga.

O modelo austero de negação do próprio bem-estar e sentimentos e a dedicação ao bem comum era visto por muitos como o meio pelo qual se atingiria a forma mais nobre de política: uma república sustentada pela virtude de seus cidadãos em contraste com regimes decadentes que dependem de coerção e subordinação violenta para funcionarem.

Em esparta, a linha entre o indivíduo e o Estado simplesmente não existia. E isso também valia para as mulheres. 

O dever cívico mesmo que levasse a própria morte era a incorporação máxima da virtude. Era justamente quando negava a si mesmo em prol do coletivo que o indivíduo estava em seu ponto mais alto. 

Referências 

Eco-Republic: What the Ancients Can Teach Us about Ethics, Virtue, and Sustainable Living. Melissa Lane

Women, Gender, and World Politics: Perspectives, Policies, and Prospects. editado por Peter R. Beckman, Francine D’Amico

Ephraim David, “Dress in Spartan Society,” AncW 19 (1989), 3-13, esp. 7

“Sparta’s Social Hair,”Eranos90 (1992), 11-21. esp. 17

Edward Tsoukalidis. A brief look at the role and position of women in Spartan society in the Classical period.

Sex and Difference in Ancient Greece and Rome, Edinburgh University Press, Edinburgh, 2003.Edinburgh Readings on the Ancient World

Spartan Women – Sarah B. Pomeroy. Oxford University Press, USA; Edição: Illustrated (11 de junho de 2002) 

The Ancient World Transformed  – Pamela Bradley

A Companion to Sparta, Volume I, First Edition. Edited by Anton Powell.

A Companion to Sparta, Volume II, First Edition. Edited by Anton Powell.

The Enigma of the Spartan Woman. Jalena M. Post


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